EGO sum res quis custodis nox noctis & is peto decor dimidium atrum

Em Manutenção

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sobre Melancolia Gótica:



O senso-comum parece encarar os góticos como pessoas melancólicas, às vezes depressivas. Isso não é verdade para a depressão (não de forma vinculante), mas pode ser verdade se ajustarmos o conceito de melancolia para aquilo que os próprios góticos traduzem. Por melancolia gótica pode-se pensar num sentimento de paz tão interior que muitas vezes dispensa a necessidade frenética de manifestações exteriores. O sentimento de reflexão ou simplesmente de contemplação traz a necessidade de uma quietude que é fundamental para a sedimentação daquilo que toca em nossa sensibilidade. Isso pode ser uma música de caráter nostálgico, a vivência interior de algumas memórias, a autocontemplação ou mesmo a catarse resultante a observação de um cenário sensibilizante. Algo como acordar, quando muito cedo, abrir as janelas e sentir aquele frio de certa forma regenerador mesmo que "aparentemente" desconfortável (pulsão de vida), e notar um céu cinzento do qual caem minúsculas gotas de sereno. Ou ainda saudade. Saudade de tempos que nunca se viveu, passados, ao lembrar ícones que nos transportam pelas viagens da mente aos imemoriais tempos antigos ou, porque não, futuros?

Enfim, alguns sentimentos podem não ser exatamente a melhor descrição do que as pessoas chamariam de "bom", no entanto eles são as coisas que mais nos dão a certeza de estarmos vivos. E isso acaba gerando uma ambivalência que é apreciada sobremaneira pelo gótico. Por isso, quando um gótico às vezes aparentar algo melancólico saiba que isso não quer dizer que ele está obrigatoriamente "triste". Pode ser que ele esteja paradoxalmente feliz em seu estado interior.

Se alguém que você conhece e que se declara gótico discordar do que escrevi até aqui sobre as características fundamentais do goticismo, então sugiro que a luz vermelha do seu ceticismo se acenda na direção de um de nós dois (eu ou seu amigo). No entanto, as declarações a seguir são produto mais de uma reflexão pessoal com base na experiência do que um tratado que aspire à exatidão, e como vou ousar em uma questão relativa a fatos existentes mas pouco debatidas entre os góticos é esperado que isso renda controvérsia.

Vimos nos parágrafos anteriores que o goticismo é caracterizado por um modo de se perceber o mundo e a vida, ou seja, não é obrigatório que alguém exteriorize isso no vestuário ou em atitudes imutáveis. Isso também leva a consideração de que alguém pode ter uma personalidade gótica, mas nem mesmo se dar conta disso (relacionando-a ao goticismo). Em outras palavras, pode haver pessoas que tenham esse sentimento gótico, o romantismo, o prazer estético pelo clássico e medieval e ao mesmo tempo pelo surrealismo, e ainda assim não ter sequer ouvido falar de "góticos". No entanto, parece sensato aos que tem o conhecimento sobre os góticos caracterizar, ao menos para si, essa pessoa como uma pessoa de índole gótica.

Nenhum comentário: